quarta-feira, 6 de outubro de 2010

SLEEPWALKING

Ela não conseguia dormir. Tudo em que conseguia pensar era nele. Era um rapaz tímido, retrospectivo, mas com um sorriso indescritível (e só ela conhecia o verdadeiro sorriso do rapaz.).

Um dia antes de iniciar um grande trabalho, ela só pensava em como dizer tudo o que sentia por ele. Ela sabia que ele era tímido, que preferiria não tocar no assunto, mas ela decidiu pensar. E isso a acordou.

Na semana passada, eles se viram. A vida é agitada, sabem como é. Se viram rapidamente e esse momento ela guardou, com todos os outros momentos que passaram juntos.

Eles eram amigos, sim. Saíam juntos, pessoal divertido ia com eles. Ou eles iam com o pessoal, não importa. O que importava era a presença dele. Ele estaria lá semana que vem? Ele viria tomar café conosco? Ela conversava com ele como se fosse a última vez que iriam se ver. O abraço de despedida era o mais apertado, triste e comovente, mas a enchia de alegria, o momento, o toque...

Mais uma vez, eles voltavam à vida real. Faculdade, estágio, família, cachorros e uns sorrisos que brotavam durante o dia. Porque ela conhecia o sorriso dele e não sabia muito bem se ele reconhecia o dela. Ela dava um sorriso quente, com afeto. Não, afeto é pouco- com amor!

Num desses encontros, eles se vêem, num súbito consumo violento de paixão, ele era amado como homem e ela como mulher. Seria ela realmente sua amada? O que ele sentia? Depois dessa noite, muito mudaria para ela. Aí ela começa a perder o sono, de verdade. Seria um rastro de esperança?

Agora manhã, os problemas ultrapassam as expectativas para aquela semana. “Seria essa a pior e melhor semana da minha vida?”. Como alguém perduraria com essa dúvida por mais tempo? Ela não podia!

É madrugada novamente. Ela escreve um SMS, mas não tem coragem de enviar. “Que não seja eterno, (posto que é chama) mas que seja infinito enquanto dure!”. Vinícius de Moraes enchia sua cabeça com os poemas e contos mais clichês. Ela estava mais apaixonada!

Um tempo depois, o reencontra e dá outro abraço daqueles, um apertado. Ela o enchia de amor ele a enchia de... Nada, ela crê. Ou algo. Ele não dizia. Ele não pensava. Mas ela pensava por ele. E sentia o coração doer, por ele.

Mais uma noite sem sono. Ela vai até seu computador e decide desabafar. Escreve algo autoral, de punho e depois passa para a máquina. A prosa dizia:

“Eu o vi. Com seus olhos pálidos e suas mãos quentes.

Ele não me beijou ou demonstrou nada. Só abraçou e sorriu. Ele se foi.

Se não é amor, é algo muito parecido, creio eu. Não vejo porque não.

A gente se completa da forma mais insana que se pode crer. A dúvida não me deixa mais dormir. O que fazer agora, se ele não sai de mim? Eu procuro deixa-lo em qualquer lugar: “Tomem, podem levar o guri que tanto prezo e que tanto macula meu coração!”. Eu grito, sem voz. Eu suspiro silenciosamente. E depois de tanto sofrer, decido voltar para a cama. Mas antes, vou abraçar o meu amado, mesmo em pensamento.”

E ela voltou para sua cama, com seus olhos cerrados e uma lágrima teimosa.